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Estudo de caso: O IDR falhou, e agora de quem é a culpa?

Introdução:

Como se sabe o IDR (Interruptor Diferencial Residual) tem como função a proteção da instalação/circuito contra fugas elétricas que possam desencadear princípios de incêndio e/ou choque elétrico nos usuários do sistema.

Fato é que mesmo após anos de lançamento deste componente ainda existem eletricistas com dificuldade em entender seu princípio de funcionamento o que resulta em instalações incorretas.

Em certa ocasião deparei-me com uma situação muito interessante que coloca em questão se este dispositivo é mesmo confiável, tendo-se vista de que há necessidade de um grau de conhecimento básico por parte do instalador, do contrário não servirá ao propósito.

Caso:

Em um painel elétrico havia um IDR instalado, com função de proteção geral de todos os circuitos. Este IDR por sua vez estava em série com um disjuntor termomagnético, até então a configuração encontrava-se correta, pois, um disjuntor termomagnético foi inserido em série para trabalhar em conjunto na proteção do circuito.

Ao pressionar o botão de “teste” do IDR o mesmo desarmava-se, demonstrando então seu pleno funcionamento. Até aí tudo bem, porém um detalhe foi interessante, no ensaio com instrumento específico testador de IDRs, instalado no circuito terminal, o IDR não desarmou, logo, não foi aprovado no ensaio de fuga elétrica.

Ao testar o IDR nos terminais de “saída” (com instrumento) ocorreu a mesma coisa, o IDR não desarmou, porém, desarmava corretamente quando se pressionava o botão “Teste”.

Neste momento veio a questão: Por que o IDR desarma pelo botão “teste” e não desarma na simulação com o instrumento testador de IDR? O que está errado? O IDR foi instalado da forma correta? Existe sistema de aterramento na instalação? O IDR está com defeito?

Não poderia eu como Engenheiro Eletricista atestar o pleno funcionamento do IDR sendo que ele não passou no teste com instrumento, apesar de que toda vez que pressionava o botão “Teste”, desarmava conforme o esperado.

Com a intuição de que seria necessário colocar a mão na massa para descobrir o que estava acontecendo ali, fui em busca de desvendar o mistério.

Primeiro me certifiquei de que havia aterramento no painel elétrico, que visivelmente possuía lindos e longos cabos verdes, vistosos. Segundo me certifiquei de que havia condutor Neutro também, não que isso fosse imprescindível naquele caso, mas que pudesse ajudar no diagnóstico do problema.

Ao medir a tensão entre barramento Neutro e barramento Terra do painel elétrico constatei 30V!!, logo me perguntei, por que este valor tão alto entre Neutro e Terra? Estariam eles abertos na origem? O neutro do transformador da rua não está aterrado? Indução?

Bom, depois de 1 hora de vai e vem decidi descer lá no centro de medição do prédio verificar se o condutor Neutro estava interligado com o condutor Terra, conforme inclusive determina as normas das concessionárias de energia elétrica.

E para a minha surpresa, o condutor Terra de todos os apartamentos estavam soltos, desconectados do sistema de aterramento do prédio!!!! Os condutores Terra estavam ali presentes, mas DESCONECTADOS!

Meu Deus! Isso é inadmissível! 

A construtora foi acionada, o eletricista fez a correta conexão do sistema de aterramento…e…olha só… o IDR do painel elétrico veio a funcionar corretamente sendo aprovado no ensaio de fuga nos circuitos terminais (com instrumento)! Aí sim pude atestar que o IDR apresentava pleno funcionamento.

Conclusão:

Isso reforça a tese de que por mais que um eletricista “experiente” e de confiança tenha realizado a instalação do IDR, um detalhe sobre a conexão do cabo de aterramento na origem do suprimento de energia elétrica foi ponto chave para comprometer a segurança do usuário, afinal, dado a presença do IDR no painel e de que desarmava ao pressionar-se o botão de teste o usuário tinha a ilusão de que estava seguro.

O laudo com instrumentação apropriada foi capaz de diagnosticar e encontrar a falha na instalação antes da ocorrência de uma possível morte.

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